REDE NACIONAL DE PESQUISA EM PEDAGOGIA (RePPed)
Sob o propósito de congregar pessoas que desenvolvam pesquisas referenciadas na Pedagogia como Ciência da Educação e associando-nos aos movimentos de resistência a toda forma de ataques ao curso de Pedagogia e na defesa do princípio de uma educação emancipadora e equitativa, constituímos a Rede Nacional de Pesquisa em Pedagogia.
Entendemos que a atual conjuntura perspectivada em políticas e programas pautados pelo conservadorismo reacionário inviabiliza a proposta de uma educação pública, laica, democrática e plural. Em meio a um contexto de negacionismo e retrocessos nos campos da ciência e da educação, tornou-se fulcral alimentarmos o debate da Pedagogia como campo epistemológico, pois entendemos que seu caráter de Ciência da e para a Educação, implicada na transformação social, em espaços escolares e não escolares, deve se configurar como um instrumento de denúncia e anúncio: a denúncia das estruturas de desigualdade em todas as suas ordens (econômica, política, cultural e educativa) que convertem a educação em mercadoria; o anúncio como a possibilidade de construção de práticas pedagógicas em diferentes espaços que colaborem com a construção de um projeto civilizatório de sociedade.
À Pedagogia, como campo científico, cabe instituir agendas investigativas e formativas que contemplem a multidimensionalidade do fenômeno educativo e suas contradições em um marco histórico de crises que impactam diretamente a formação humana, sendo compreendida, por isso mesmo, como campo que fundamenta a práxis de educadoras/es. Essa concepção de Pedagogia enseja: a) compreender a educação nas várias modalidades e espaços em que se manifesta como prática social; b) fundamentar a formação profissional da/o pedagoga/o em diferentes práticas sociais; c) subsidiar conhecimentos no campo da formação de professoras/es para uma análise crítica e contextualizada da educação e do ensino enquanto práxis, contribuindo para que as mediações não se desenvolvam no vazio conceitual. Nessa relação dialética entre teoria e prática, a Pedagogia se constitui como uma forma de intervir na sociedade para transformá-la.
É preeminente transcender narrativas que alimentam, durante décadas, no cenário brasileiro, representações que evocam a Pedagogia apenas como um curso de graduação, reduzindo-a a um campo de aplicação de conhecimentos exógenos. Em tempos de regulação neoliberal no campo da formação de pedagogas/os e professoras/es, devemos engendrar um movimento crítico e propositivo que defenda a Pedagogia como lócus de produção de conhecimentos sobre a educação em sua multidimensionalidade, superando o caráter reducionista ancorado nas Diretrizes Curriculares Nacionais de 2006 e aprofundado nas propostas de revisão do documento sinalizadas pelo Conselho Nacional de Educação, em decorrência da Base Nacional Comum da Formação Docente. Ambos os documentos ignoram a referência epistemológica da Pedagogia e atualizam, cada um ao seu modo, representações restritivas do conhecimento pedagógico e da profissão de pedagoga/o. Um curso de Pedagogia que não se assumir no campo teórico-investigativo da Pedagogia pouco colaborará com a formação de pedagogas/os que, em diferentes espaços, (re)criem possibilidades de mediação educativa com base no reconhecimento dos desafios e das oportunidades de ensinar e aprender em contextos culturais emergentes.
No campo da pós-graduação e da pesquisa, a pouca visibilidade da Pedagogia como referencial para compreensão dos processos do conhecimento educacional fomenta o distanciamento entre teoria e prática, atualizando dicotomias que negam uma epistemologia da e pela práxis. A pesquisa pedagógica, como expressão de produção do conhecimento em torno da prática educativa como objeto específico, tem sido pouco discutida no contexto das epistemes e métodos que organizam as culturas investigativas da pós-graduação brasileira. Entendemos que é preciso fortalecer as investigações de caráter pedagógico em face da colonização do campo por enfoques que, embora associados à educação, não a assumem como objeto específico e, por isso, reduzem-na a dimensões fragmentadas de estudos, além da manutenção da cisão entre graduação em Pedagogia e pós-graduação em Educação.
Entendemos que é necessário aprofundar a discussão em nosso país sobre a epistemologia da Pedagogia e suas intersecções com o curso homônimo e com a pós-graduação em educação, considerando as especificidades históricas e culturais de sua trajetória no Brasil. Por isso, nós, pesquisadoras/es de diferentes regiões implicadas/os com a Pedagogia crítica, construímos essa rede de caráter nacional com os seguintes objetivos:
• Congregar pessoas interessadas na discussão da Pedagogia como campo de conhecimento, curso e profissão no Brasil;
• Fortalecer a defesa das dimensões constitutivas do campo da Pedagogia, do curso de Licenciatura em Pedagogia e da profissão de pedagoga/o;
• Estabelecer uma rede de interlocuções nacionais sobre os desafios de consolidação da pesquisa e da formação profissional no âmbito da Pedagogia;
• Promover uma agenda de eventos que articulem e deem visibilidade aos estatutos identitários que sustentam a Pedagogia como Ciência da Educação;
• Participar da criação de movimentos de resistência em face das ingerências de políticas conservadoras e colonizadoras que inviabilizam pautas emergentes na produção do conhecimento e na formação pedagógica de educadores/as, relativas a diversidades, democracia e justiça social;
• Colaborar com outros movimentos críticos e progressistas na defesa da educação como direito humano e da sociedade democrática.
As pessoas interessadas em integrar a RePPEd poderão fazê-lo mediante inscrição no formulário virtual disponível na página.
Convidamos todas e todos à defesa da Pedagogia contra qualquer medida autoritária, antidemocrática e negacionista que fragilizam a formação de educadores/as, a educação pública e a ciência.